quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Que ano tão mortal

O último irmão dele já foi,
a última irmã dela também,
que ano desgraçado é este,
será que vai mais alguém.

Se pensava que tinhas batido no fundo,
afinal estava enganada,
quando viraste defunto,
ainda tiveste mais, "de nada".

A miséria puxa a miséria
é difícil aceitar
que os actos de gente séria
me deixassem amargurar

Pedi uma luz
foi-me dada com facilidade
ajudei-te na tua cruz
Não me sinto com vaidade

Só consigo sentir tristeza
por haver mundos tão maus
não ter nada para por na mesa
nem orgulho nos seus

(Homenagem Póstuma à Tia V)

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

A tua beleza é tão efémera;
Mas também é tão profunda;
De ti sempre emana;
Mesmo que sejas corcunda.

Oiço a tua voz;
Um misto de alívio e lamento;
Sei que não estamos sós;
Partilhamos um sentimento.
(Homenagem à Tia H)
Remorsos

Olho para o dia;
Está tão cinzento;
Levou toda a alegria;
É o que sinto aqui dentro.

O comboio segue lento;
Parece murmurar;
Som do meu lamento;
Por não te apanhar.

A culpa vai ficar;
Para sempre dentro de mim;
Por ter fugido do teu olhar;
De sofrimento sem fim.

A coragem não me acompanha;
Fiquei agora a saber;
Sem qualquer manha;
Foi difícil perceber.

Olho em meu redor;
Penso, será que todos fogem?
Mas na boca tenho o ardor;
De saber, nem todos somem.


Quero encontrar desculpas;
Um raio de sol num recanto;
Para minimizar as minhas culpas
Nunca mais terei descanso.

domingo, 8 de agosto de 2010

A morte

Não sabemos quando chegou,
Se hoje, se ontem ou mais além,
Só sabemos que gostou,
De te deixar muito aquém.

Veio amarga como o fel,
Demorada, um tormento,
Fez de um homem doce como o mel,
Um farrapo de sofrimento.

Homem de pouca sorte,
Com excepção de um sentimento,
Uma esposa sempre forte,
Para tolerar este tormento.

Mesmo assim não merecias,
Tanta doença traiçoeira,
Pois sempre foste um messias,
De familiares e de gente sem eira nem beira.

A vida foi-te injusta,
É essa a minha opinião,
Espero que a morte, que custa,
Te saia mais de feição.

Foste galã da diva,
Não serás por isso recordado,
Mas enquanto ela foi viva,
Ainda eras lembrado.

Declamaste na rádio,
E também na televisão,
Com palavras de sábio,
No palco causaste sensação.

Tivestes colegas famosos,
Alguns já cá não estão,
Já são só ossos,
E estendem-te agora a mão.

Contentes de te rever,
Alegres por estares ali,
Vão poder reler,
Poesia sem fim.
(Homenagem Póstuma ao Tio R)
É isto vida,
Penso que não,
É uma ida,
Sem autorização.

Não se está cá,
Assim parece,
Já se está lá,
Quando acontece.

Que quarto escuro,
Encontraste tu,
Parece duro,
Como um urubu.

Na janela há sol,
Mas tu não o vez,
Sentes-te mole,
O que Deus te fez.

Sinto a revolta,
No meu coração,
Quero-te de volta,
E que me dês a mão.

Quero um sorriso,
De que me reconheces,
Mas para isso era preciso,
Descobrir se já me esqueces.

Apetece-me fugir,
Mas para quê,
Só posso sorrir,
E aguardar com fé.

A minha vez,
Também vai chegar,
Às 2 por 3,
Nem vou detectar.

Não podemos ter medo,
Do que para ai vem,
Pois assim vem cedo,
E apanha-nos bem.

Um dia de cada vez,
Tem de ser o lema,
Às 2 por 3,
Deixou de ser tema.

(Homenagem à Tia V)